No século XVI ao XVIII, muitos justificavam a escravidão com argumentos, como por exemplo, que graças aos brancos os negros eram resgatados da ignorância em que viviam e convertidos ao cristianismo, que lhes abririam as portas da salvação eterna. Desta forma, a escravidão podia ser um benefício para o negro. Portanto, acreditavam que era a vontade de Deus que alguns nascessem pobres, outros ricos, uns livres e outros escravos. De acordo com essa teoria não cabia aos homens modificar a ordem social. A Igreja limitava-se a recomendar paciência aos escravos e benevolências aos senhores. Assim, a escravidão era justificada pela religião e sancionada pela Igreja e pelo estado – Representados por Deus na terra.
No pensamento revolucionário do século XVIII, encontravam–se as origens teóricas do abolicionismo de vontade dos homens, que passaram a criticar a escravidão em nome da moral, da religião e da racionalidade econômica. Descobriram que o cristianismo era incompatível com escravidão e o trabalho escravo era menos produtivo que o livre.
Com a idéia de liberdade e igualdade ocorreram contradições, com a dúvida de como conciliar tal idéia com o direito de propriedade que os senhores tinham sobre seus escravos, que tinham o homem como propriedade? Sabemos que essa idéia começara a brotar a partir da revolução Francesa em 1789 e a “abolição da escravatura” só ocorreu um século depois. Em pleno século XXI as contradições ainda continuam, porque as pessoas acreditam, que no Brasil não existe o preconceito racial referente ao negro para defender interesses em causa própria, principalmente quando se referem às cotas para negros nas Universidades.
A discriminação racial no Brasil existe. As pesquisas deixam claro, que os brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, são em maioria os negros. As pessoas que são contra as cotas argumentam o princípio da igualdade, porém esta igualdade que muitos defendem é a mesma igualdade quando a elite brasileira aboliu a escravatura e dizia que apartir daquele momento negros e brancos seriam iguais.
Os negros passaram a ser iguais aos brancos, de direito, quando foram “libertos” para serem condenados pela mesma lei dos brancos.
Os “libertos” eram os sem casa, comida, trabalho, dignidade, moral, os definitivamente sem nada. Só restava a este povo a luta pela sobrevivência, mesmo que por meios ilícitos e serem condenados igualmente aos brancos. A partir daí, os negros andavam perambulando pelas ruas sem destino até que imigraram para as cidades grandes, como por exemplo, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, assim iniciando grandes favelas (uma África Negra), onde até hoje a sociedade em geral está sofrendo as conseqüências por ter discriminado o negro antes e depois da Abolição, pois não houve qualquer programa, por parte do Governo, de distribuição de terras provenientes da reforma agrária aos libertos e atualmente ainda perdura a dívida histórica com os negros brasileiros que tanto fizeram pelo País sem receber nada em troca.
A história precisa ser revista para entender o passado deste povo que sempre foi tratado com desigualdade, portanto as Cotas nas Universidades são para incluir os mais pobres e nada mais justo que sejam os negros, porque estes, atualmente, continuam sendo, na maioria, pobres e excluídos.
Sebastião Medeiros
É professor de História
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